Nas últimas décadas, o mundo tem se deparado com diversas
situações que necessitam uma atuação conjunta de todos os países na busca de
soluções urgentes e eficazes. O trabalho infantil é um desses problemas
mundiais. A Índia, por exemplo, é um dos países com maior índice de escravidão
e exploração de crianças. Mas é de lá também o homem que se arrisca todos os
dias para salvar meninos e meninas dessa realidade. Kailash, como é conhecido,
já resgatou mais de 80 mil crianças da máfia do trabalho escravo, feito que deu a ele o Prêmio Nobel da Paz, em 2014. Em entrevista exclusiva ao senador
Cristovam Buarque para o Papo Supren, um programa da União Planetária, ele
disse que as questões relacionadas ao direito infantil sempre tocaram o seu
coração e por isso decidiu, aos 26 anos, largar sua carreira para se dedicar
exclusivamente à essa luta.    

“Eu tinha cinco anos e meio. Estava indo para a escola,
quando vi um garoto engraxate, sentado, trabalhando com o pai. Ele olhou
fixamente para mim e para as outras crianças, enquanto entrávamos na escola.
Nós estávamos vestindo sapatos e uniformes novos. Então, quando fui introduzido
à turma, a primeira pergunta, na vida, que fiz para a minha professora foi o porquê
aquele garoto estava sentado do lado de fora e não com a gente. A professora
tentou me convencer que aquilo não era incomum. Que uma criança pobre precisava
trabalhar. Precisava ganhar dinheiro”, lembra Kailash, ressaltando que
esse primeiro dia de aula abriu seus para a realidade de várias crianças.  

Infelizmente, o garoto que ele viu na frente de sua escola, há
dezenas de anos, não é o único exemplo de jovens que trabalham desde cedo.
Atualmente, milhões de meninos e meninas ao redor do mundo não frequentam as
escolas por diversos motivos, que vão desde a pobreza, guerra civil, conflitos à
exploração e escravidão infantil.

Segundo últimos dados da Organização Internacional do Trabalho
(OIT), cerca de 168 milhões de crianças realizam trabalho infantil. Só na Índia
são 28 milhões de crianças, entre 6 e 14 anos, que são forçadas a trabalhar, de
acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). No Brasil, os
números também preocupam. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
(Pnad) de 2015, cerca de 554 mil crianças de 5 a 13 anos estavam trabalhando em
2014.

Para Kailash, a solução desse e outros problemas só serão
possíveis com a construção de um mundo mais igualitário, onde haja uma
democratização do conhecimento, da informação, da ciência e tecnologia, assim
como uma globalização do que ele chama de ‘compaixão transformadora’.