Marne José de Paula Farias é coordenador de serviços de tecnologia da informação da IBM Brasil e chefia uma equipe de mais de vinte funcionários, monitorando atividades internas e de relacionamento com os clientes. Ele está na empresa há treze anos e nos últimos cinco desempenhou funções de liderança. Como negro, sabe que, infelizmente, faz parte de uma exceção.

De acordo com o estudo divulgado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e pelo Instituto Ethos em 2016, os negros correspondem a apenas 4,7% dos cargos executivos das 500 maiores companhias brasileiras. A realidade é alarmante se comparada aos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que reconhecem os afrodescendentes – entre pretos e pardos – como 54% da população do país.

O levantamento sobre as empresas mostra que a participação deles diminui de forma brusca à medida que o nível hierárquico aumenta. Negros e negras correspondem a 57,5% dos aprendizes, 28,8% dos estagiários, 58,2% dos trainees, 35,7% do quadro funcional, 25,9% da supervisão, 6,3% da gerência, 4,7% do quadro executivo e 4,9% do conselho de administração. Nos últimos dois setores, a diferença entre brancos e negros chega a 94,2% e 94,8%, respectivamente.

Para Marne, há uma barreira construída por fatores sociais, culturais e econômicos que dificultam a superação desse problema dentro e fora do mercado de trabalho. “Enfrento a discriminação como qualquer outra pessoa negra, de situações corriqueiras como eu ir comprar uma camisa social em uma loja, a palestrar em uma faculdade. Sim, já senti ferreamente o preconceito e, quando somos aqueles que se propõem a desconstruí-lo no exercício de sua negritude, o racismo estruturado se faz ainda maior”, enfatiza.

Segundo Selma Moreira, diretora do Fundo Baobá, que apoia projetos pró-equidade racial, o cenário reflete o passado escravagista do Brasil e é agravado pela falta de políticas que possam reverter esse quadro, oferecendo educação pública de qualidade para todos.

A situação é ainda mais difícil para as mulheres, que sofrem as consequências de uma estrutura patriarcal e racista. Não chega a 0,4 a porcentagem de negras em cargos executivos, segundo a pesquisa feita pelo Instituto Ethos e o BID. “Durante mais de três séculos as mulheres negras foram consideradas como propriedade e expostas a todo tipo de maltrato. O racismo e o machismo incidem há séculos na vida dessas mulheres, fazendo com que elas sejam consideradas menos humanas e mais passíveis de sofrerem violência”, sentencia.