Clara surpreendeu ao abordar a campanha de prevenção ao suicídio na festa com os amigos; pesquisas alertam sobre a importância de conversar com crianças e adolescentes sobre o assunto

Desde 2015, o Setembro Amarelo busca conscientizar a sociedade brasileira sobre a necessidade de prevenção ao suicídio. A iniciativa, que surgiu de uma parceria entre o CVV (Centro de Valorização da Vida), o CFM (Conselho Federal de Medicina) e a ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), tem promovido intensos debates que ajudam a desmistificar o tema, considerado um tabu pela maior parte da população.

E quem decidiu entrar de vez na campanha foi Clara Galvão Jansen, uma menina de 12 anos, moradora da cidade de Ponta Grossa, no interior do Paraná. A festa que comemorou sua entrada na adolescência ocorreu no último sábado (23), na casa da família, e trouxe o Setembro Amarelo como tema principal.

Ela conta que possui uma doença de pele que exige um tratamento difícil e isso por várias vezes a fez se sentir bastante triste e isolada. Para tentar animá-la, a mãe, Suellen, passou a ressaltar a importância de valorizar os bons momentos da vida. A conversa foi o ponto de partida para que a garota resolvesse fazer disso uma missão.

“Eu queria ajudar a perceberem que o suicídio não é uma saída recomendada. E queria muito que essa campanha chegasse às crianças porque elas não são muito escutadas. A palavra delas não tem muito valor”, afirma Clara.

Todos os convidados foram orientados a usar roupa ou acessórios amarelos para lembrar o objetivo da festa, que contou com DJ e uma brincadeira inspirada no ‘Happy Holi’, evento em que milhares de pessoas se pintam com um pó colorido. Porém, o ponto alto foi mesmo o discurso da aniversariante, que arrancou lágrimas dos amigos.

De acordo com o levantamento Mapa da Violência, que se baseia em dados coletados pelo Ministério da Saúde, as faixas em que as taxas de suicídio mais cresceram no país, entre 2002 e 2012, foram as dos 10 aos 14 anos (40%) e dos 15 aos 19 anos (33,5%).

Para a psicóloga Larissa Vasques, do Centro de Referência em Direitos Humanos do Distrito Federal (CRDH/DF), o assunto não deve ser ignorado. Ela explica que quando crianças e adolescentes falam em suicídio, muitos pais interpretam a atitude como uma forma de chamar a atenção ou manipular alguma situação.

Porém, isso deve ser visto com seriedade e usado como ‘termômetro’ para avaliar a saúde mental do indivíduo, que pode estar precisando realmente de apoio. “Temos que entender aquilo como uma comunicação de alguém que está em sofrimento. No caso do público infantil, pode ser pela separação dos pais, violência ou bullying no colégio, por exemplo. Cada faixa etária tem suas vivências”, enfatiza.

A profissional destaca que, por meio da brincadeira e de outros recursos lúdicos, é possível identificar o problema e encaminhar a melhor forma de tratamento, já que eles não se comunicam como os adultos e podem ter dificuldade em reconhecer os próprios sentimentos.

Para a menina Clara, os pensamentos negativos deram lugar a uma nova forma de enxergar as adversidades. “O Setembro Amarelo mexeu muito comigo. O suicídio pode prejudicar as pessoas ao redor, não é legal. É escolhido um mês para celebrar [a prevenção], mas a gente devia comemorar o ano inteiro”, finaliza.